segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aula 4 - Mecanismo de Evasão

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A larga infância psicológica das criaturas é dos mais graves problemas, na área do comportamento humano. Habituada, a criança, a ter as suas necessidades e anseios resolvidos, imaturamente, pelos adultos — pais, educadores, familiares, amigos — ou atendidos pela violência do clã e da sociedade, nega-se a crescer, evitando as responsabilidades que enfrentará.
No primeiro caso, porque tudo lhe chega às mãos de forma fácil, dilata o período infantil, acreditando que a vida não passa de um joguete e o seu estágio egocêntrico deve permanecer, embora a mudança de identidade biológica, de que mal se dá conta. Mimada, acomoda-se a exigir e ter, recusando-se o esforço bem dirigido para a construção de uma personalidade equilibrada, capaz de enfrentar os desafios da vida, que lhe chegam, a pouco e pouco.
No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi oferecido com má vontade e azedume ou sistematicamente negado, a criança se transfere de uma para outra faixa etária, sem abandonar as seqüelas da sua castração, buscando realizar os desejos sufocados, mas, vivos, quando lhe surja a oportunidade.
Em ambos acontecimentos, o desenvolvimento emocional não corresponde ao físico e ao intelectual, que não são afetados pelos fenômenos psicológicos da imaturidade.
Na generalidade, porém, o que sucede são as apresentações de adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis.
As figuras domésticas representadas pelo pai e pela mãe permanecem em atividade emocional, no inconsciente, resolvendo os problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos desculpistas para não lutar, mantendo-se distante de tudo quanto possa gerar decisão, envolvimento responsável, enfrentamento.
Como efeito cresce-lhe a área dos conflitos da personalidade, com predominância da autocompaixão, num esforço egoísta de receber carinho e assistência, sem a consciência da necessidade de retribuição. Não lhe amadurecendo os sentimentos da solidariedade e do dever, crê-se merecedor de tudo.
Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o eleito.
Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a vida, no relacionamento social, não pode atender.
O homem nasceu para a auto-realização, e faz parte do grupo social no qual se encontra, a fim de promovê-lo crescendo com ele. Os problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento, em razão de serem-lhe estímulos-desafios, sem os quais o tédio se lhe instalaria nos painéis da atividade, desmotivando-o para a luta.
Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da realidade, não levando a lugar algum. Mediante sua usança, aumentam os receios de luta, complicam-se os mecanismos de subestima pessoal e desconsideração pelos próprios valores.
A fuga, portanto, consciente ou não, no comportamento psicológico, deve ser abolida, por incondizente com a lei do progresso, sob a qual todas as pessoas se encontram submetidas pela fatalidade da evolução.

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Joanna de Ângelis

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